O BC (Banco Central) decidiu nesta quarta-feira (19) manter em 0% o ACCPBrasil (Adicional Contracíclico de Capital Principal relativo ao Brasil), mecanismo usado para reforçar a estabilidade do SFN (Sistema Financeiro Nacional).
O instrumento funciona como um “colchão” de capital: ele é acumulado quando o crédito cresce rápido e pode ser liberado em momentos de estresse. O Comef (Comitê de Estabilidade Financeira) avaliou que, apesar do aumento no crédito, não há sinais que justifiquem ampliar o colchão agora.
“Os bancos em geral mantêm voluntariamente capital e liquidez em níveis superiores aos requerimentos prudenciais. A suficiência do capital e liquidez é atestada por análises e testes de estresse”, diz a nota emitida após a reunião desta quarta.
Segundo o Comef, o SFN segue sólido e com capacidade suficiente para enfrentar eventuais perdas de crédito.
“O Comitê considera que o Sistema Financeiro Nacional (SFN) está preparado para enfrentar a materialização de risco de crédito. As provisões para perdas de crédito e os níveis de liquidez e de capital dos bancos se mantêm adequados. Diante da reduzida exposição cambial e da pequena dependência de funding externo, a exposição do SFN a flutuações financeiras originadas no exterior é baixa”, destacou o comitê.
O Comef ainda recomendou que as entidades supervisionadas “persistam com a política de gestão prudente de capital e de liquidez em virtude das incertezas econômicas e da conjuntura”.
Caso Master não é risco sistêmico
Mesmo após a liquidação extrajudicial das instituições do Conglomerado Master, decretada pelo BC nesta terça-feira (18), o Comitê não vê risco sistêmico ao SFN.
Segundo a nota do Comef, o conglomerado é classificado como de crédito diversificado, porte pequeno e pertence ao segmento prudencial S3. Para o BC, ele representa apenas 0,57% do ativo total e 0,55% das captações do sistema.
De acordo com o Comitê, “tal evento não traz risco de natureza sistêmica”.
Crédito desacelera, mas ainda cresce em ritmo alto
O Comef observou que o crescimento do crédito “continuou desacelerando” tanto no sistema financeiro quanto no mercado de capitais, acompanhando a moderação da economia.
Mesmo assim, o ritmo segue elevado para padrões históricos, apesar das condições financeiras mais apertadas.
Diante de juros altos — em 15% ao ano —, inadimplência crescente e endividamento elevado de famílias e empresas, o Comitê reforçou a necessidade de prudência na concessão de novos empréstimos.
A nota afirma que o cenário atual “requer cautela e diligência adicionais na concessão de crédito, tanto na qualidade dos empréstimos quanto no apetite ao risco”.
Bancos atuam acima do mínimo regulatório
O Comitê também ressaltou que os bancos brasileiros mantêm capital e liquidez acima do exigido pela regulação.
Segundo a nota, “os bancos em geral mantêm voluntariamente capital e liquidez em níveis superiores aos requerimentos prudenciais”, avaliação reforçada pelos testes de estresse analisados pelo Comef.
O Comitê recomenda que as instituições continuem com gestão conservadora de capital, dada a incerteza do cenário econômico.
Impacto externo é limitado
O Comef destacou que o sistema financeiro brasileiro tem baixa exposição a choques internacionais.
Isso ocorre devido à “reduzida exposição cambial e à pequena dependência de funding externo”, o que limita o impacto de movimentos de reprecificação global, mudanças de política monetária em economias avançadas e tensões geopolíticas.