O Brasil está entre os países mais conectados do mundo, mas, ao mesmo tempo, cresce o desejo da população por se afastar das telas. Essa é a principal conclusão de um estudo conduzido pela Bain & Company. A nova edição da pesquisa Consumer Pulse ouviu cerca de 2.500 pessoas no Brasil, e revelou que 28% dos brasileiros afirmam querer reduzir o tempo gasto no ambiente digital.
“Não é novidade que o brasileiro é hiperconectado, com alto uso de celulares e redes sociais. O que vemos agora, sobretudo no pós-pandemia, é um movimento de estafa digital, uma tendência já forte nos Estados Unidos e na Europa e que começa a ganhar força aqui”, explica o pesquisador Ricardo De Carli, um dos sócios da companhia, em entrevista à CNN.
Segundo o levantamento, o digital é a segunda atividade em que os brasileiros mais investem tempo ao longo do dia. Porém, quando questionados sobre mudanças de hábito, muitos apontam a intenção de se desconectar. Entre os principais motivos estão as distrações indesejáveis, o impacto negativo na saúde mental e a sensação de culpa pelo uso excessivo das telas. O fenômeno é mais forte entre os jovens da Geração Z e os Millennials, justamente as faixas etárias mais imersas no ambiente online.
Apesar disso, o brasileiro, ao mesmo tempo em que manifesta cansaço digital, se mostra mais otimista e aberto a novas tecnologias do que consumidores de outros países. “Chamamos esse perfil de ‘equilibrista’. O digital já faz parte do cotidiano, mas existe a busca por balancear experiências físicas, como tempo em família, atividades ao ar livre e vida mais saudável”, comenta o pesquisador.
Segundo Ricardo, outro fator de destaque na pesquisa é que o brasileiro tem cada vez mais confiança na Inteligência Artificial (IA). Essa característica também ajuda a explicar a rápida adesão a inovações: mais de 60% dos entrevistados afirmaram já ter utilizado ferramentas de inteligência artificial, percentual que sobe para 80% entre consumidores de alta renda.
Para De Carli, esse contexto representa tanto desafios quanto oportunidades para marcas, empresas e formuladores de políticas públicas. “As organizações que conseguirem criar experiências de comunidade, tanto no ambiente físico quanto no digital, estarão um passo à frente. E, no âmbito público, a chave está na educação e conscientização para um uso equilibrado da tecnologia”, afirma.
O estudo, feito anualmente desde 2019, acompanha mudanças de comportamento globalmente. Entre as tendências observadas estão a valorização do bem-estar, o crescimento da saúde mental como prioridade e a polarização do consumo, que beneficia tanto produtos premium quanto opções mais acessíveis.
Para o futuro, a expectativa é que a busca por equilíbrio entre o online e o offline se intensifique no Brasil, seguindo padrões já consolidados em outros mercados.
“Não há como imaginar um futuro desconectado”, resume De Carli. “A questão é como equilibrar os benefícios do digital com experiências reais que promovam saúde, concentração e qualidade de vida.”