Fãs de longa data de Taylor Swift sabem que a estrela pop percorreu um longo caminho desde que lançou sua carreira musical como cantora country — e essa evolução é aparente também em seu dialeto, segundo cientistas da fala.
Do Tennessee à Pensilvânia e depois a Nova York, a carreira da vencedora de 14 prêmios Grammy a levou “dentro e fora de comunidades que têm dialetos regionais ou socioculturais distintos”, escreveram dois pesquisadores da Universidade de Minnesota em seu estudo, publicado nesta terça-feira (23) no The Journal of the Acoustical Society of America.
Os autores do estudo, Miski Mohamed e Matthew Winn, observaram que as inúmeras entrevistas e aparições de Swift na mídia ao longo de sua carreira ofereceram uma “oportunidade rara” de observar mudanças de dialeto em um período prolongado — algo que “seria virtualmente impossível de observar em um estudo controlado de laboratório”.
Isso, segundo eles, pode ter implicações para a compreensão de como lugar, profissão e objetivos de liderança influenciam a forma como o dialeto de uma pessoa se adapta na vida adulta.
Nascida na Pensilvânia em 1989, Swift mudou-se para o Tennessee aos 13 anos para atrair a atenção de gravadoras de música country em Nashville. Lá, ela alcançou sucesso como jovem artista country, lançando em 2008 seu álbum de country pop “Fearless”.
A transição para um estilo mais pop mainstream tornou-se evidente com o álbum “Red” (2012), cujo single principal foi “We Are Never Ever Getting Back Together”.
Em 2014, Swift mudou-se para Nova York e lançou seu quinto álbum de estúdio, 1989, que descreveu como seu primeiro “álbum oficialmente pop”. Ele trouxe sucessos como “Bad Blood”, “Blank Space” e “Shake It Off”.
Os pesquisadores analisaram mudanças no sotaque de Swift entre 2008 e 2019, extraindo áudios de entrevistas no YouTube e em outras plataformas online.
Cada entrevista estava ligada à promoção de um álbum específico, escolhido de acordo com onde Swift vivia ao gravá-lo e promovê-lo: o “Fearless” (2008), em Nashville; o “Red” (2012), associado à Filadélfia; e o “Lover” (2019), já em Nova York.
Foram analisados 45 minutos, 24 minutos e 37 minutos de fala, respectivamente, para as eras de Nashville, Filadélfia e Nova York.
“Medimos centenas e centenas de vogais que Taylor pronunciou durante essas entrevistas”, explicou Winn, coautor do estudo e cientista da comunicação da fala.
Eras vocais
Comparando as medidas acústicas, os pesquisadores perceberam mudanças consistentes com características de um sotaque sulista em Nashville, que desapareceram quando ela voltou para a Filadélfia.
Por exemplo, na pronúncia da vogal /aɪ/ (como em ride), Swift movia menos a língua em Nashville, o que fazia a palavra soar mais próxima de rod.
Já na Filadélfia e em Nova York, ela alongava o som, chegando a uma pronúncia ainda mais afastada do sulista em Nova York — o que os pesquisadores interpretaram como uma “hipercorreção” para se distanciar desse sotaque.
Outro traço foi a vogal /u/ (como em two), pronunciada em Nashville de forma mais avançada na boca, soando quase como tee-you. Isso desapareceu quando ela voltou para a Filadélfia.
“É bom encontrar mais evidências de que, mesmo na vida adulta, as pessoas ainda encontram motivos para mudar a forma como falam para se adaptar à comunidade”, disse Winn.
Segundo ele, dialeto não é só questão geográfica, mas também social: “Como Taylor estava inserida na comunidade da música country, isso também influenciou na forma como sua voz mudou.”
Sotaques e ativismo
No período em Nova York, Swift também apresentou um tom de voz “significativamente mais grave”. Vozes mais graves, segundo os pesquisadores, costumam sinalizar confiança, autoridade e liderança em discussões sérias.
Esse período coincidiu com sua maior visibilidade ao falar sobre mudanças sociais, sexismo, direitos dos músicos e autonomia em sua carreira. Em 2019, ela defendeu a igualdade LGBTQ no MTV Video Music Awards, lançou em 2020 a música Only The Young sobre mobilização da juventude e apoiou candidatos democratas.
Helen West, professora de Língua Inglesa na Universidade de Chester, no Reino Unido, que também estuda o sotaque de Swift, disse que achou “notável” como o estudo mostra não só a adaptação da cantora ao sotaque country no Tennessee e ao sotaque do norte dos EUA quando migrou para o pop, mas também a mudança de tom de voz para soar mais autoritária em questões sociais.
Ainda assim, os pesquisadores lembram que essa mudança de tom pode estar ligada também ao envelhecimento, já que Swift tinha 19 anos no início do período analisado e 30 ao final. O mesmo padrão foi observado em falas da Rainha Elizabeth II e em mulheres nessa faixa etária.
O “sotaque real”
Em maio, Swift anunciou que havia recuperado o controle de todo o seu catálogo musical e confirmou a regravação de seu álbum de estreia “Taylor Swift” (2006).
Segundo Elly McCausland, professora de Literatura Inglesa na Universidade de Ghent, fãs especulam há anos que Swift demorou a regravar o álbum justamente por precisar readotar o sotaque country — que nunca foi seu sotaque “real”.
“Isso mostra mais sobre o tipo de sotaque esperado em certos gêneros musicais do que sobre a identidade dela”, disse McCausland.
Por fim, os próprios autores do estudo ressaltam que, como se basearam em entrevistas informais e não em dados laboratoriais, não é possível afirmar com certeza todas as razões pelas quais Swift alterou sua fala — conscientemente ou não — ao longo da carreira.