Hoje, no Dia Nacional do Cerrado, a atenção se volta para a savana mais rica do mundo. Apesar de sua biodiversidade, o bioma se tornou o mais pressionado e desmatado do Brasil.
O Cerrado abrange cerca de 23,9% do território brasileiro e tem um papel decisivo na manutenção da biodiversidade. De acordo com o ICMBio, ele abriga uma grande diversidade de vida, com 6 mil espécies de plantas nativas, cerca de 200 de mamíferos e 800 de aves.
O bioma tem liderado o ranking do desmatamento no Brasil pelo segundo ano consecutivo. De acordo com o Relatório Anual do Desmatamento (RAD) de 2024 do MapBiomas, o bioma foi responsável por mais da metade de todo o desmatamento do país (52,5%), o que totalizou uma área de 652.197 hectares em 2024.
O desmatamento está concentrado principalmente em áreas rurais privadas que, segundo dados do IPAM, foram responsáveis por 72% de toda a devastação no bioma. A principal causa é a expansão da agropecuária, responsável por mais de 97% da perda de vegetação nativa nos últimos seis anos.
A região do MATOPIBA, formada pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, é um dos principais polos agrícolas do país e concentrou 75% do desmatamento do Cerrado em 2024, com o Maranhão liderando o ranking nacional.
De acordo com dados do IPAM referentes ao primeiro semestre de 2025, os estados que mais desmataram o bioma foram, em ordem: Maranhão, Piauí, Bahia e Tocantins. Veja abaixo:
A dimensão histórica da perda é ainda mais preocupante: desde 1985, o Cerrado perdeu 40 milhões de hectares de vegetação nativa, tornando-se um dos principais vetores das emissões brasileiras de gases de efeito estufa.
Queimadas, Seca e a Biodiversidade sob Ameaça
Além do desmatamento, o bioma sofre com um uso recorrente do fogo. De acordo com o IPAM, mais de 9,7 milhões de hectares foram atingidos por queimadas em 2024.
A Defesa Civil Nacional destaca que o período de seca, de maio a setembro, é o mais crítico para o Cerrado, quando o número de incêndios costuma disparar, e já classificou a seca em estados como Maranhão, Piauí e Bahia como grave.
A riqueza do Cerrado, no entanto, está sob ameaça, pois, segundo o ICMBio, o bioma tem a menor porcentagem de áreas legalmente protegidas do país, com apenas 8,21% de seu território em unidades de conservação.
A perda de habitat também impacta a sobrevivência de animais como a rolinha-do-planalto, uma espécie de ave que só existe no Cerrado brasileiro. No entanto, o Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, liderou um processo de reprodução da espécie sob cuidados humanos, como parte de um esforço para que a população da espécie volte a povoar o bioma.
Oportunidades e Perspectivas de Conservação
Apesar do cenário de destruição, dados do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) indicam uma redução de quase 21% nos alertas de desmatamento no Cerrado no período de agosto de 2024 a julho de 2025.
O Estado de Minas Gerais, por exemplo, apresentou um dos maiores recuos na perda de vegetação, com uma queda de 34%. O governo tem intensificado a fiscalização, e as ações do Ibama no bioma resultaram em 831 autos de infração e mais de R$ 607 milhões em multas.
Outra grande oportunidade para conciliar produção e conservação é apontada pelo IPAM: existem mais de 14 milhões de hectares de pastagens degradadas no Cerrado que poderiam ser utilizados para intensificar a produção agrícola sem a necessidade de desmatar novas áreas.