Índice
O presidente Donald Trump, pressionado pelos crescentes problemas de custo de vida nos Estados Unidos, mais uma vez propôs uma solução inusitada: enviar aos americanos cheques de reembolso das tarifas que sua administração arrecadou.
“As pessoas que são contra tarifas são TOLAS!”, publicou Trump no Truth Social no domingo (9). “Um dividendo de pelo menos US$ 2.000 por pessoa (não incluindo pessoas de alta renda!) será pago a todos.”
E uma promessa ousada com várias complicações significativas.
O que Trump propôs
Trump tem frequentemente sugerido a ideia de cheques de reembolso de tarifas. Antes da proposta deste fim de semana, Trump havia dito em agosto que os americanos poderiam receber uma parte da receita das tarifas.
“Estamos arrecadando tanto dinheiro que podemos muito bem fazer um dividendo para o povo americano”, disse Trump na ocasião.
Embora os importadores americanos arquem inicialmente com a conta das tarifas, eles têm repassado parte desses custos adicionais aos consumidores, o que significa que os americanos também estão pagando indiretamente pelas tarifas.
A ideia se assemelha aos cheques de estímulo que foram distribuídos durante a recessão causada pela pandemia — uma vez no final do primeiro mandato de Trump, em 2020, e novamente em 2021, quando o ex-presidente Joe Biden estava no cargo.
Trump sugeriu que esses cheques de reembolso tarifário poderiam ser financiados não por um fundo geral de impostos, mas sim pelo dinheiro arrecadado dos importadores americanos que pagam as históricas tarifas impostas por Trump sobre uma vasta gama de produtos do exterior.
O que diz o Tesouro
O principal assessor econômico de Trump demonstrou ceticismo em relação aos cheques de reembolso.
O Secretário do Tesouro Scott Bessent foi cauteloso sobre a proposta em uma entrevista ao programa “This Week” da ABC no domingo.
Bessent disse que não foram feitas propostas formais para distribuir a receita tarifária e sugeriu que a menção de Trump a um pagamento de US$ 2.000 “poderia vir de várias formas”, incluindo compensação por receita perdida ao não taxar gorjetas, horas extras e pagamentos da Previdência Social.
Há dinheiro suficiente para isso?
O governo Trump arrecadou mais de US$ 220 bilhões em receitas tarifárias, que incluem uma combinação de várias tarifas impostas por Trump e tarifas anteriores que já estavam em vigor antes de Trump assumir o cargo, segundo o Tesouro dos EUA.
Mais de 163 milhões de americanos declararam impostos em 2024, segundo a Receita Federal americana.
Assim, um cálculo aproximado indicaria que cheques de estímulo de US$ 2 mil custariam cerca de US$ 326 bilhões no total. Isso é mais do que a receita tarifária que os Estados Unidos arrecadaram desde o início do segundo mandato de Trump.
Trump disse que excluiria os americanos ricos, mas não está claro onde seria o limite de corte e se isso poderia compensar a diferença.
Mesmo com um limite de renda de US$ 100 mil — bem abaixo da faixa de imposto de renda mais alta — cerca de 150 milhões de adultos se qualificariam.
Isso custaria à administração aproximadamente US$ 300 bilhões, escreveu Erica York, vice-presidente de política fiscal federal da Tax Foundation, em uma publicação no X.
De acordo com uma publicação nas redes sociais na manhã de segunda-feira (10), o presidente parece acreditar que haveria dinheiro suficiente após a distribuição dos cheques de reembolso tarifário para ajudar a reduzir a dívida nacional de quase US$ 40 trilhões.
“Todo o dinheiro restante dos pagamentos de US$ 2.000 feitos aos cidadãos americanos de baixa e média renda, proveniente da massiva receita tarifária que está entrando em nosso país de nações estrangeiras, que será substancial, será usado para REDUZIR SIGNIFICATIVAMENTE A DÍVIDA NACIONAL”, escreveu Trump no Truth Social.
Um funcionário da Casa Branca não especificou quais requisitos precisariam ser atendidos para se qualificar para um cheque. “A Administração está comprometida em usar esse dinheiro de forma adequada para o povo americano”, disse o funcionário à CNN.
E quanto à Suprema Corte?
Outro fator complicador: a Suprema Corte parece cética quanto ao uso de poderes emergenciais pela administração Trump para impor tarifas. Cerca de US$ 100 bilhões do total da receita tarifária até agora foi coletada por meio desse método.
Se o tribunal decidir contra a administração Trump, pode ser necessário devolver esse dinheiro às empresas, o que reduziria significativamente o montante de dinheiro tarifário disponível como reembolso para as famílias americanas.
Isso também poderia complicar o processo de reembolso às empresas se o dinheiro já tiver sido distribuído aos indivíduos.
Trump pode fazer isso unilateralmente?
Quase certamente não.
O Congresso mantém o poder sobre o orçamento, e os cheques de estímulo anteriores exigiram aprovação do Congresso, e não está claro se Trump tem apoio suficiente para aprovar algo assim.
O Congresso apoiaria isso?
Embora os cheques de estímulo tenham se mostrado politicamente populares no passado, eles ocorreram quase exclusivamente durante recessões ou emergências. A economia americana não está em nenhuma dessas situações no momento.
Os cheques de reembolso poderiam agravar o aumento dos preços em um momento em que os americanos dizem que a inflação e o custo de vida são suas principais preocupações.
O envio de cheques pode dar um impulso momentâneo à economia americana no pior momento possível e, eventualmente, prejudicar as famílias americanas caso o Federal Reserve precise aumentar sua taxa básica de juros para conter a alta dos preços.
Isso pode fazer com que Trump perca alguns votos cruciais entre os conservadores fiscais de seu próprio partido.
Quando pessoas receberiam o cheque?
Mesmo se os cheques de reembolso forem aprovados, não conte com isso tão cedo.
Durante a pandemia, os americanos que optaram por receber depósitos diretos tiveram o dinheiro em suas contas bancárias cerca de uma semana após a aprovação do primeiro pacote de estímulo. A situação ficou muito mais complicada para os americanos que escolheram receber cheques em papel. Esse processo levou cerca de 20 semanas.
